O setor de incorporação imobiliária continua otimista em relação às vendas de imóveis, mesmo com o início do ciclo de alta de juros que elevou a Selic de 2% para 2,75% ao ano. As Incorporadoras avaliam que, até o patamar da Selic a 6%, os juros do crédito imobiliário não deverão ter alta expressiva, a ponto de desestimular a compra de imóveis por parte de clientes finais.
Ricardo Gontijo, presidente da Direcional Engenharia, espera manter o custo do financiamento imobiliário próximo ao custo atual, mesmo que a taxa básica de juros chegue a 5% ou 6%. “A partir daí, se a Selic tiver tendência de alta, será um efeito ruim, mas esse não é o nosso cenário base”, diz Gontijo. Desde o ano passado, ao definir a viabilidade de seus projetos, Carlos Bianconi da RNI Negócios Imobiliários, considerou que a Selic poderia chegar a 5% em 2020.
Bianconi estima que o Valor Geral de Vendas (VGV) lançado, em 2021, possa superar de 80% a 90% o do ano passado. Sem informar projeções, o executivo diz que os lançamentos do primeiro trimestre serão muito superiores aos do mesmo período de 2020.
Desde o ano passado, há muitos rumores de que as baixas taxas de juros estão trazendo a figura do investidor de volta ao mercado imobiliário, já que as apostas em imóveis voltaram a ser mais atraentes do que os investimentos financeiros. Com o novo ciclo de altas taxas de juros, questiona-se agora será o contrário.
Na avaliação do presidente da Tecnisa, Joseph Nigri, a retomada da elevação da Selic, embora esperada, é “levemente negativa para o setor”. “A cada ponto percentual de alta, aumenta o número de pessoas que se desenquadram do crédito imobiliário. Mas muita gente ainda conseguirá assumir o financiamento”, diz Nigri. Conforme o patamar alcançado pelos juros, o investidor pode se sentir “desincentivado” a adquirir imóveis e passar a buscar outras opções, segundo o presidente da Tecnisa. Esse não é, porém, o ambiente esperado pelo setor para o curto e para o médio prazo.
Alexandre Frankel, fundador da Vitacon – incorporadora com foco em imóveis compactos, na cidade de São Paulo, e que tem investidores como mais de 80% de seus clientes – ressalta que a rentabilidade do aluguel corrigido pela inflação é muito superior à de aplicações financeiras. “A taxa de juros atual precisaria triplicar para ter algum efeito no investidor de renda”, afirma Frankel.
Bianconi, da RNI, também diz não esperar perder clientes para aplicações financeiras. Ele destaca que o mercado de locação residencial é muito forte no Brasil e que a incorporadora atua em cidades com perspectiva de crescimento para os próximos 15 anos, buscando exposição máxima de 10% do mercado local. “Temos uma margem de segurança muito grande”, diz o presidente da RNI.
Gontijo, da Direcional, avalia que a atratividade do imóvel para renda diminui com a taxa básica de juros acima de 5%, por ser um investimento menos líquido do que outras aplicações, mas pondera que o tijolo têm valorização próxima à da inflação no longo prazo. Na Direcional, investidores representam menos de 2% dos clientes.